ANSIEDADE...
Há mais coisas que nos assustam do que coisas que nos magoam, e sofremos mais na apreensão do que na realidade.
Seneca
«De cada vez que tenho um exame da faculdade, é a mesma coisa. Mais de uma semana antes já eu estou em stress – o estômago embrulha-se-me, durmo mal, só penso que vou chumbar. Quando lá chego, estou completamente de rastos, e, obviamente, o exame nunca corre bem. E isto mesmo nos casos em que eu sei a matéria!»
ALGUMAS INFORMAÇÕES
PROBLEMA ORGÂNICO OU PSICOLÓGICO?
Ainda que seja difícil chegar a uma definição de ansiedade que inclua todos os seus aspectos, todos nós conhecemos, de alguma forma, esta emoção, frequentemente referida como «nervosismo». Talvez mais do que qualquer outra emoção, a ansiedade é frequentemente caracterizada por um conjunto de sintomas físicos: o coração a bater com força, os músculos tensos (por vezes com dores e tremuras), falta de fôlego, sudação, etc. Esta componente fisiológica da ansiedade é o que leva frequentemente as pessoas a pensar que o seu problema é orgânico, sendo que muitas vezes os exames médicos que fazem não revelam quaisquer alterações.
PARA QUE SERVE?
Na verdade, a ansiedade é uma resposta biológica normal, concebida pela natureza para ajudar o organismo. Ela é uma resposta ao perigo que, perante este, prepara o indivíduo para a acção, permitindo que este tenha uma de duas respostas: atacar ou fugir. Senão vejamos: no tempo em que os nossos ancestrais viviam em cavernas, era crucial que, quando estes eram confrontados com determinado perigo, como um predador, existisse uma resposta automática que os levasse a atacar ou fugir; no tempo actual, em princípio mais seguro, continua a ser importante que, por exemplo, quando ao atravessar uma rua vemos um carro aproximar-se a grande velocidade, a mesma resposta nos leve a fugir para o passeio. Em ambos os casos foi a existência de ansiedade que permitiu que a pessoa sobrevivesse!
ANSIEDADE «BOA» E ANSIEDADE «MÁ»
Todas as pessoas têm situações em que se sentem um pouco ansiosas – um estudante antes de um exame, um executivo antes de uma reunião importante, uma pessoa tímida antes de uma festa, etc. E a verdade é que a ansiedade as ajuda a fazer frente aos desafios, porque lhes permite estar alerta e responder rapidamente às situações.
No entanto, pode também acontecer que a pessoa experimente níveis de ansiedade desproporcionados face às ameaças reais que enfrenta no seu quotidiano, ou seja, que se sinta demasiado ansiosa e durante demasiado tempo. Nesses casos, a ansiedade torna-se disfuncional, e em vez de preparar a pessoa para a acção, passa a prejudicar essa mesma acção. É nesses casos que se torna importante tentar lidar com essa mesma ansiedade.
PENSAMENTOS ASSUSTADORES E CONSEQUÊNCIAS FISIOLÓGICAS
A ansiedade é, na verdade, uma resposta complexa, que pode ser decomposta em duas etapas. Num primeiro momento, verifica-se o aparecimento de um conjunto de pensamentos assustadores. É, por exemplo, o caso do estudante que antes de um exame, é assolado por pensamentos como «tenho que saber tudo», «não vou conseguir», «vou chumbar», o que «demonstra que sou uma nódoa como estudante», e que «provavelmente nunca vou acabar o curso nem arranjar nenhum emprego por pior que seja durante toda a vida e vou viver em casa dos meus pais até aos 40 anos», o que «faz de mim um fracasso total». Não é, então, surpreendente, que se comece a sentir extremamente ansioso – surgem então, numa segunda etapa, consequências fisiológicas (o aumento do ritmo cardíaco, o aumento do ritmo respiratório, o aumento da tensão muscular…) e emocionais (criação de um estado de alerta, sentimentos subjectivos de desconforto…).
LIDAR COM A ANSIEDADE
Tendo em conta aquilo que foi dito até aqui, seguem-se três abordagens possíveis para confrontar a ansiedade. Há, contudo, que ter em conta que a implementação destas abordagens não garante que a sua ansiedade desapareça magicamente. Estas constituem apenas algumas sugestões que poderão ser úteis como ponto de partida para começar a abordar o problema.
Abordagem nº1: Alterar hábitos de vida. Se é verdade que não é possível nem desejável esvaziar a vida quotidiana de toda a ansiedade que ela comporta, é igualmente verdade que poderá ser benéfico reconsiderar os seus hábitos de forma a identificar as situações que lhe criam mais ansiedade e desenvolver estratégias para as tornar mais fáceis.
Ex 1 – o atraso dos transportes públicos e os engarrafamentos são causas de ansiedade matinal para muita gente; quanto a eles, nada pode fazer. Mas pode passar a sair um quarto de hora mais cedo, e tolerá-los com mais tranquilidade
Ex 2 – a falta de organização e de planificação são as causas mais frequentes de ansiedade no trabalho. Em cada dia estabeleça um programa de tarefas e prioridades, de forma a evitar os esquecimentos e a controlar melhor o seu trabalho.
Ex 3 – tente incorporar uma actividade de prazer na sua rotina diária (pode ser a prática de um desporto, fazer uma caminhada, encontrar-se com amigos…). Um oásis no meio do stress permite recarregar baterias, ganhar perspectiva sobre as coisas e aumentar a motivação com que se encara cada novo dia.
Abordagem nº2:Pensamentos realistas. Conforme foi acima mencionado, a ansiedade é criada, num primeiro momento, por um conjunto de pensamentos assustadores face a uma determinada situação. Nesta abordagem, a redução desta ansiedade passa por identificar estes pensamentos e analisá-los de forma objectiva. Algumas das possíveis questões são: até que ponto estes pensamentos são realistas? Qual é a probabilidade de a catástrofe que imagino se verificar na prática? E, se se verificasse, o que significaria realmente? Como poderia lidar com isso? Responda às suas próprias questões, formulando as respostas sob a forma de pensamentos mais realistas. No exemplo do estudante acima mencionado, poderiam ser respostas como «vou fazer render ao máximo aquilo que sei», «se consegui fazer as coisas até aqui, é perfeitamente possível que passe neste exame», e «de qualquer forma, um exame é só um exame».
Abordagem nº3: Esta abordagem procura confrontar a ansiedade nas suas manifestações físicas, permitindo eliminá-la ou, pelo menos, reduzi-la para um nível em que se torne mais fácil de gerir. A ideia é a de relaxar o corpo, assumindo que, num corpo relaxado é difícil ter pensamentos ansiosos. Dos vários procedimentos possíveis, dois se destacam pela sua simplicidade e eficácia: a respiração diafragmática e o relaxamento muscular progressivo. A sua combinação é particularmente eficaz na obtenção do estado de relaxamento pretendido – RELAXAMENTO
PARA FINALIZAR...
Uma boa notícia para as pessoas que sofrem de ansiedade excessiva é a de que, da mesma forma que aprenderam a ficar ansiosas em determinadas situações, também lhes é possível aprender a relaxar nas mesmas situações.
Se, no entanto, tentou implementar estas sugestões e não obteve resultados, ou se gostaria de ter um acompanhamento mais individualizado, contacte um profissional de saúde mental para combinar um processo de acompanhamento.